segunda-feira, 5 de julho de 2010

BOLETIM DA COPA: Os motivos

Por Marcello Zalivi


Assim como em 2006, ficamos nas quartas da Copa do Mundo. Mais uma vez perdemos para uma boa equipe, que apesar de ser inferior tecnicamente, tinha condições de nos superar. Mais uma vez um carequinha foi o nosso algoz. Não chega nem perto da genialidade de Zidane, o maior jogador francês de todos os tempos. A eliminação desta vez teve participação fundamental de Sneijder, um meia cerebral e batalhador, nada mais que isso.

Atribuo à eliminação precoce não apenas ao bom time da Holanda, ou o apagão do segundo tempo, ou ao descontrole emocional do Felipe Melo. Acredito que foi uma série de fatores que culminaram nesse desfecho um tanto quanto trágico para a torcida, mas esperados por alguns.

O primeiro capítulo da nossa queda foi escrito na convocação. É louvável que Dunga quisesse premiar alguns jogadores do grupo que tanto comprometimento tiveram, com uma vaga no grupo. Mas em se tratando de Copa do Mundo, vale o velho chavão “amigos, amigos, negócios a parte”. Felipão deixou Alex (e olha que é craque) de fora em 2002 pela péssima fase que ele vivia nos últimos dois anos. Foi cortado sem dó, apesar de serem amigos pessoais. No caso de Dunga, levar Doni, Júlio Batista, Kleberson, todos reservas de seus clubes, alem de Grafite e Josué, foi um grande erro. Vagas que poderiam ter sido preenchidas por jogadores de mais potencial e jovens promessas. Até o jogo contra o Chile, esse fator não parecia ser um problema perto da transpiração deste grupo, mas depois da falta de sorte na suspensão de Ramires e contusão de Elano, ficou nítida a falta de talento para compor o meio campo do time. Após o segundo gol da Holanda, tenho certeza que Dunga olhou para o banco na esperança de transformar os nomes citados acima, em outros, tais como: Ronaldinho Gaucho, Ganso, Pato, Neymar e até mesmo no Adriano, jogadores com mais condições de definir uma partida. A expulsão de Felipe Melo e a apatia do time foram apenas os reflexos de um desfecho esperado. A máquina precisava de todas as peças bem alinhadas para funcionar, um parafuso frouxo e pronto, não se tinha nem um grampo para improvisar.

Também atribuo a derrota ao isolamento total do time. A seleção ficou trancada com o intuído de manter o “foco” na conquista. Mas em minha opinião esse regime de concentração não é o ideal para uma Copa do Mundo. O certo é dosar as duas coisas. Treinamentos táticos fechados (concordo), mas que mal faria um bate bola, um rachão na frente da torcida, de uma platéia de fãs, ou de crianças carentes de Soweto que amam nossa seleção? A única coisa que consigo visualizar em uma ação como essa é que os jogadores sentiriam o carinho e o calor da torcida, entenderiam muito mais a importância de um mundial, e não teriam a atitude apática de alguns jogos.

A confiança também é tudo. Que o qrupo era forte e batalhador, isso ninguém duvida, mas uma atitude pode contaminar todo um trabalho. A comissão técnica pregou que diferente das outras seleções, a brasileira não poderia receber a visita de seus parentes. Outro engano, que mal há em receber a visita de alguém com a intenção de te dar carinho e apoio? Não estamos falando de sexo ou sorvete na concentração. Estamos falando do abraço de um filho, o beijo de uma esposa, o carinho de uma mãe. Isso não atrapalha, isso fortalece. Um dia da semana na presença dos seus entes queridos é mais uma forma de incentivar e enaltecer o espírito para vencer o mundial. A comissão não pensava assim, paciência. Mas não é justo dois pesos e duas medidas. Jorginho, auxiliar técnico da seleção, pregava mas não cumpria. Levou seus filhos e esposa para a África do Sul. O fato de lhe dar este privilégio, com certeza foi fundamental para perder o controle do grupo e diminuir influencia da comissão técnica sobre os jogadores, um mal estar que aumentou quando o mesmo resolveu colocar no staff da seleção, uma maioria de funcionários evangélicos. Nada contra, mas a medida beneficiava uns e não outros.

Leite derramado, não adianta chorar. Agora é apostar em um novo treinador. Luxa e Muricy já tiveram seus momentos, Felipão tem o espírito certo, mas dividir suas atribuições no Palmeiras com a Seleção não seria “ético”. Mano e Ricardo Gomes não me agradam, e Parreira já era. Sobrou Leonardo, não será unanimidade, mas é um cara inteligente e com o perfil certo para desenvolver um trabalho de renovação.

Meu palpite para o mundial? A Alemanha. Acho que seria interessante a conquista germânica, pois deixaria para os próximos 4 anos a influência de um time que joga apostando no jogo coletivo, na velocidade e juventude. Quebrando velhos tabus do nosso futebol. A Espanha também tem uma escola legal, e a Holanda merece um título pela sua história. Mas confesso que torço muito pelo Uruguai, para reconquistar o seu espaço de grande e premiar a raça e mística da celeste olímpica.

Bom, seja quem for o campeão, será muito merecido.

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