quinta-feira, 30 de julho de 2009

ESPECIAL: A Despedida do Ídolo Sorín (3)

Leia carta do presidente Zezé Perrella sobre o ídolo Sorín

“Os grandes craques, os gênios da bola deveriam ser eternos nos gramados”. A frase, tantas vezes dita no mundo do futebol, retrata com fidelidade o sentimento de quem ama este esporte. Mas apesar de sabermos que o dia de parar é inevitável para todos, não nos acostumamos com a idéia de ver esses artistas deixarem a cena. Quando o momento chega fica um enorme vazio. Essa é a lei do tempo, da existência do ser humano, e só nos resta agradecer. Foi assim com dezenas de gigantes que defenderam a camisa estrelada: Tostão, Natal, Dirceu Lopes, Piazza, Raul e tantos outros. É por isso que, aqui, no Cruzeiro, são chamados de “Ídolos Eternos”. A esta galeria histórica chega agora uma grande reforço, Sorín.

Desde a sua primeira passagem pelo clube, este argentino de Buenos Aires soube cativar o carinho e conquistar o respeito de cada um dos cruzeirenses. Jogando com uma raça exemplar, uma determinação invejável, uma obstinação pela vitória incomum, Juampi se tornou um símbolo de amor ao clube. Suas palavras no anúncio de despedida foram fidedignas ao que sempre fez nos gramados: “Sou um homem feliz. Foram muitos anos no futebol e vou deixar essa carreira sabendo que sempre que vesti a camisa deixei alma, deixei sangue”.

Felizes foram também os clubes e suas torcidas que puderam ter a honra de ver Sorín suando seus uniformes. Desde o começo no Argentino Juniors, passando pela Juventus da Itália, River Plate da Argentina, Lázio também da Itália, Barcelona da Espanha, Paris Saint-Germain da França, Villareal da Espanha, Hamburgo da Alemanha e, claro, no Cruzeiro, Juan Pablo desfilou um talento de encher os olhos de várias platéias.

Em 2008 Sorín voltou ao Cruzeiro para o seu último ato. Infelizmente, lutando contra uma contusão no joelho que o deixara quase dois anos sem uma seqüência de jogos, ele ainda acreditava que poderia ser o mesmo guerreiro em campo. Foram meses de tratamento, treinos e preparação na esperança de voltar a ser o mágico lateral que surpreendia os adversários com jogadas tiradas sabe-se lá de que cartola. Sorín apostou que ainda realizaria seu derradeiro sonho: encerrar a carreira no Cruzeiro, seu clube de coração.

Todos os esforços foram feitos nesse sentido. Não faltou comprometimento de ninguém dentro do Cruzeiro para ajudar Juampi a alcançar sua meta. Mais de uma centena de sessões de fisioterapia, apoio dos médicos, preparadores físicos e toda a atenção da comissão técnica para que o futebol pudesse ver novamente esse incomparável jogador atuando 90 minutos.

Sorín conseguiu se livrar da incômoda tendinite, mas outras contusões surgiram teimando em manter o craque longe da plenitude de sua forma. Assim como no boxe, o jogador deve ser um bravo, cair a cada duro golpe, mas se levantar para prosseguir enfrentando os opositores até o round final. Lutas e mais lutas são travadas nos campos até que se depara com o mais difícil oponente: o tempo. Nessa hora o lutador deve reconhecer as limitações impostas por Deus e aceitar com sabedoria que é o momento de parar. Sorín não fugiu ao combate, lutou com sua habitual vontade, mas reconheceu, agora, que chegara o indefectível instante de pendurar as chuteiras.

Nos últimos meses amadureceu essa idéia. Ao lado da companheira inseparável, a esposa Sol, foi percebendo que a vida dentro das quatro linhas estava por se encerrar, ao mesmo tempo em que adotava Belo Horizonte como sua cidade para sempre. Antes nos deu outra enorme alegria ao participar do título do Campeonato Mineiro de 2009 e da campanha na Copa Libertadores. Agora, ao se render à cobrança inexorável do tempo, o craque nos deixa ainda uma lição de dignidade. Sorín tinha mais um ano e meio de contrato com o Cruzeiro, mas ao sentir as limitações impostas as suas forças de atleta preferiu se retirar.

A você, Sorín, fica nossa enorme gratidão. Não há, para nenhum cruzeirense, como se esquecer daquela decisão da Copa Sul-Minas de 2002. A cabeça enfaixada, a vontade de permanecer em campo contrariando a lógica, a busca pelo gol e a alegria pelo título. Você foi homem, guerreiro, craque, um gigante. O mundo da bola ainda vai demorar um bom tempo para se acostumar com a idéia de que Juampi parou. Mas a grande pergunta continua: por que existe esse dia no esporte? A resposta: existe exatamente para imortalizar os craques na história do futebol.

Obrigado, Sorín!

Zezé Perrella
Presidente do Cruzeiro Esporte Clube

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